O despertar para a Arquitetura

Reprodução de capa do álbum "O Cetro de Otokar", com o personagem Tintim, criado por Hergé, a partir da versão brasileira da Editora Record, publicada na década de 1980.
O olhar para a Arquitetura pode ser despertado numa criança através de uma boa história em quadrinhos.

O ofício da Arquitetura, quando levado com interesse, feito um sacerdócio, consome décadas numa carreira: não há necessidade de iniciá-la ainda na puberdade.

Mensagem da Lara, recebida em fevereiro de 2015:

"Boa tarde, sr. Jean!

Meu filho tem 12 anos e fala que quer ser arquiteto. Gostaria de saber do sr. qual o primeiro passo, ele está no 8° ano da escola. Ele poderá fazer colégio normal ou terá que já fazer um colégio de Arquitetura, sei lá (desculpa minha ignorância: pensa numa pessoa que não entende nada, sou de uma família muito humilde e tenho só esse filho).

Será que existe escola gratuita para Arquitetura? O sr. pode me ajudar com alguma informação?

Muito obrigada pela sua atenção! Aguardo ansiosa pela resposta!"

Nossa resposta:

Prezada Lara,

Aos 12 anos, o compromisso de seu filho (que é você que tem que honrar) é ter uma infância feliz. Não estou falando do tênis importado e do celular de última geração: me refiro aos amigos de verdade para andar de bicicleta, aos bons livros que um garoto deve ler, aos bons filmes que ele deve assistir, aos bons exemplos que você e os tios devem dar.

Deixe ele fazer o colégio normal e se ele tem esse lado voltado para a Arquitetura, incentive ele a desenhar a mão livre, lhe compre alguns álbuns com as aventuras de Tintim (não vale o filme nem os desenhos animados) e peça para a professora de Português lhe cobrar boas redações, toda semana. A parte chata é aprender a gostar de Matemática.

Pode ser que ele mude de ideia no caminho, mas se ele souber escrever bem e tiver certa facilidade com números (o que se aprende, também) poderá seguir qualquer carreira.

Não faça de seu filho um adulto em miniatura. Quando ele descobrir, por conta própria, que este mundo não é um lugar justo, ao menos vai se lembrar da doce infância e juventude que teve, lhe sendo muito grato. Não tire isso dele.

Atenciosamente,
Jean Tosetto - Arquiteto

A compreensão de Lara:

"Boa tarde!

Sr. Jean, que bonitas palavras... O sr. tem razão, hoje ele quer ser arquiteto, pode ser que amanhã escolha outra profissão. Por enquanto ele está no caminho certo, ele ama desenhar e faz uns desenhos muito bonitos.

O sr. sabe, ele gosta de jogar aquele Minecraft, o sr. conhece? Ele fica construindo coisas lá, talvez por isso o desejo de ser arquiteto no momento. E por enquanto gosta de Matemática, eu me dedico bastante pra ensiná-lo. Relembro as coisas no Google, para poder ensiná-lo, afinal estou com 44 anos e já esqueci muita coisa (risos).

Sr. Jean, muito obrigada! Que Deus te abençoe muito, e toda sua família!"

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2 comentários:

  1. Jean, meu querido.

    A sua resposta a essa mãe é um texto antológico. Digna de um cara que, no futuro, será reconhecido como um profissional que não se limitou a explorar a Arquitetura mas que teve uma intensa preocupação (e ações) no sentido de DESENVOLVER A ARQUITETURA.

    Parabéns. Parabéns!

    E parabéns também à mãe, que entendeu direitinho o que fazer com a vocação manifestada pelo filhote.
    Tomara que, no fim das contas, esse menino vire mesmo um arquiteto!

    Grande abraço

    Prof.EnioPadilha
    professor@eniopadilha.com.br

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    1. Caro Ênio Padilha,

      Tenho recebido mensagens de gente que escreve para outros profissionais, mas não obtém respostas. De minha parte, quero manter o hábito de dedicar parte de meu tempo para o próximo. A gente nunca sabe quem é "o próximo", não é mesmo?

      As vezes demoro para responder, é verdade, pois nossa carreira é corrida demais.

      Abraços do amigo,
      Jean

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