Meios de transporte secundários

Hidrovia no Delta do Rio Paraná em Tigre, na Argentina: quando um meio de transporte é também uma atração turística.
Hidrovia no Delta do Rio Paraná em Tigre, na Argentina: quando um meio de transporte é também uma atração turística.

Sinopse da sétima aula (segundo semestre de 2006) do Núcleo de Estudos de Transporte e Mobilidade da Faculdade de Administração Pública - Universidade São Marcos - Campus Paulínia - SP.

Por Jean Tosetto

Quando se fala nos principais meios de transporte que a população utiliza nas grandes cidades, logo se pensam nos veículos rodoviários e ferroviários, como automóveis, ônibus, trem e metrô. Ao menos estes são os principais meios valorizados pelas políticas públicas para a questão. No entanto existem alternativas que historicamente foram relevadas ao segundo plano durante décadas e apenas recentemente estão sendo discutidas.

Tratam-se dos meios de transporte secundários, pois a sua implantação efetiva nas cidades depende de condições favoráveis nem sempre presentes, ou impraticáveis no momento. Não se pode pensar em transporte hidroviário, por exemplo, numa cidade sem ao menos um rio navegável. Por vezes, quando os rios existem, estão poluídos e em processo de assoriamento, necessitando de um custoso e demorado programa de recuperação, que muitas vezes se torna inviável ou de difícil solução.

É o caso de São Paulo, para os rios Tietê e Pinheiros, que já foram palco para disputas de regatas, mas que hoje se tornaram canais de esgotamento da metrópole. Está em curso um programa de recuperação ambiental com financiamento público e privado, incluindo recursos internacionais, para tornar estes rios, num futuro distante, aptos para navegação. Já estão sendo projetados até mesmo roteiros turísticos, a despeito do que ocorre em países europeus.

Cidades insulares ou peninsulares, como Belém e Florianópolis, já se utilizam de transporte hidroviário, assim como acontece na tradicional transposição por barcas entre Rio de Janeiro e Niterói, através da baía da Guanabara. Nos estados da Região Norte os grandes rios são o principal meio de ligação entre as populações ribeirinhas com as cidades constituídas. No entanto, muitas vezes as condições deste meio de transporte estão precárias, tanto na segurança das embarcações, quanto na infra-estrutura das estações portuárias.

Infelizmente temos que abrir um parêntese para reconhecer que a precariedade se estende até as aerovias, pois o Brasil enfrenta, neste começo de século XXI, a iminência de um colapso no transporte aeroviário, devido ao contingenciamento do Governo Federal frente a necessidade de investimento na manutenção e ampliação de sistemas de controle.

O fato é que o crescimento econômico das empresas do setor está limitado pela incapacidade de se abrirem novas rotas, e também pelo crescimento desordenado das cidades, que englobam as vizinhanças dos aeroportos mais antigos, provocando restrição do horário de uso, no período noturno.

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No outro extremo dos recursos tecnológicos temos as bicicletas: elas quase não poluem, quase não emitem ruídos, não são caras a ponto de inviabilizar sua aquisição - mesmo pela camada mais popular da sociedade. Talvez por isso as bicicletas não mereçam a atenção da classe política que nos governa, uma vez que vivemos numa sociedade de consumo, onde se valoriza tudo que polui e faz barulho, mas dá “status”...

Na China o uso de bicicletas é tão intenso que nas grandes cidades elas são proibidas de circular nos horários de pico, tamanha a concorrência de espaço que elas fazem aos outros meios de transporte. No Brasil, a frota de bicicletas é considerável, mas muita gente a deixa em casa por falta de praticidade e locais específicos e seguros para transitar.

O Rio de Janeiro foi a primeira cidade brasileira a desenvolver uma política exclusiva para o uso da bicicleta e, mesmo assim, o fez por pressão de organizações não governamentais e para atender a uma demanda por lazer, uma vez que suas ciclovias estão sendo construídas basicamente na orla marítima, atualmente cobrindo o trajeto do Leme ao Pontal.

Cidades do litoral paulista estão seguindo esta tendência, como Caraguatatuba e Praia Grande, que pretende ser a cidade com a maior quilometragem de ciclovias do mundo e ingressar desta forma no Livro dos Recordes.

Em Belém do Pará, no entanto, as ciclovias que estão sendo implantadas possuem outra finalidade, para atender os deslocamentos das pessoas de suas casas até o trabalho ou para fazer compras – no mínimo como forma parcial do trajeto, quando se torna necessário o uso complementar do transporte coletivo. Para tanto, os terminais de ônibus devem ser equipados com bicicletários, dotados de “paraciclos” que guardam as bicicletas.

A falta destes bicicletários em pólos intermodais de transporte, ou mesmo nos centros comerciais da cidade, assim como em escolas e locais de trabalho, é uma das razões que desencorajam o uso mais intenso da bicicleta, por parte da população. Isso em cidades topograficamente favoráveis, pois ninguém se animaria a pedalar por encostas de morros em cidades de Minas Gerais, por exemplo.

Mas não são apenas em ciclovias que se pode utilizar a bicicleta, elas podem perfeitamente conviver com os pedestres e veículos compartilhando o espaço público de outras formas, sejam por faixas exclusivas pintadas no leito carroçável, sejam por zonas demarcadas nas calçadas de maior largura. Novamente, adentramos numa questão educacional, onde devemos nos conscientizar que o espaço público é de todos, e não uma terra de ninguém.

A seguir: Painel geral sobre a questão da habitação

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