Escritório de Arquitetura no João Aranha em Paulínia - 2005/2006

Fachada da edificação após a reforma entre 2005 e 2006.

Uma das maiores dificuldades que o profissional liberal enfrenta, após se graduar na faculdade, é encontrar um local para trabalhar. Os custos com locação, telefone, água e energia são altos em relação às receitas, que ainda são pequenas demais para alguém com pouca experiência.

Por isso, muitos arquitetos começam suas carreiras trabalhando em casa. A depender da auto disciplina de cada um, esta situação pode se estender a ponto de ser uma opção de vida. Trabalhar em casa reduz custos mas expõe o profissional nos momentos de descanso.

Para este arquiteto em questão, foi fundamental o apoio do pais, durante a faculdade - entre 1994 e 1998 -  e nos primeiros anos da profissão - a partir de 1999. Eles cederam a edícula da chácara onde moram para que o filho pudesse ter um local para desenvolver seus projetos e receber seus primeiros clientes com a devida privacidade.

A reforma
Planta baixa com a indicação dos cortes e a projeção do pergolado junto da porta de acesso.

Com o passar do tempo, o volume de trabalho aumentou e a construção simples e modesta já não condizia mais com o que se esperava de um escritório constituído. Com a situação financeira estabilizada e com outras prioridades encaminhadas, havia chegado o momento da reforma do próprio local de trabalho, afinal de contas a expressão "casa de ferreiro e espeto de pau" não deve se aplicar a um arquiteto.

Os trabalhos começaram no final de 2005 e entraram nas primeiras semanas de 2006, período em que o projetista se espremeu num dormitório de hóspedes da casa principal. Quase tudo foi alterado: o telhado de barro queimado exposto foi substituído por telhas de fibrocimento embutidas em platibandas. O piso cerâmico foi substituído, as instalações elétricas e hidráulicas foram renovadas e boa parte do reboco foi refeita. Portas e janelas foram trocadas e mudaram de posição. Apenas as fundações, algumas paredes e a laje ficaram no lugar.

O corte AA salienta o perfil da cobertura sobre o sanitário, com três terças de apoio às telhas de fibrocimento sem amianto.

Como uma das paredes da construção estava disposta na divisa do terreno - impossibilitando a abertura de novos vãos para iluminação e ventilação - duas chaminés de exaustão foram acrescentadas em empenas opostas e cobertas com domos de acrílico, que se tornaram fonte de iluminação zenital ao mesmo tempo que permitiam as ventilação cruzada entre os ambientes do escritório.

Na fachada, um pergolado com vigas de madeira dispostas em ângulos crescentes, veio para oferecer um pouco de proteção contra o sol da tarde, que desenha na parede branca e texturizada, um interessante jogo de luzes e sombras. As platibandas contém aberturas para salientar a posição das calhas das águas pluviais, uma proposta didática, preparada para a futura instalação de uma cisterna para reaproveitar o resultado das chuvas. Um arco de passagem complementa o conjunto. A intenção original era usá-lo para um acesso independente à rua, o que acabou não ocorrendo.

Já o corte BB exemplifica o princípio de ventilação cruzada através de domus em paredes opostas, que atuam também como fonte de luz  natural, além de promover a exaustão de ar aquecido.

Antes
A configuração original da obra de 1984: simplicidade extrema e nenhum apuro estético.

Depois
O resultado da reforma apresenta linhas contemporâneas e um interessante jogo de luzes e sombras, oferecido pelo sol da tarde atuando através do pergolado da fachada oeste.

Durante dez anos, este escritório rendeu boas lembranças e dali saíram os desenhos que ajudaram a consolidar o início de uma carreira que pretende ser longa. No final de 2009 o local foi "devolvido" à família, se tornando uma biblioteca aconchegante e também num local para reuniões de amigos, com direito à telão para assistir filmes e jogos da Copa.

Dica do arquiteto: reformas, por essência, são mais complexas do que obras novas. Sempre que possível, deixe de usar o local onde os serviços serão realizados. Mesmo com o melhor dos planejamentos, podem ocorrer imprevistos: para quem sabe contorná-los, o resultado é gratificante.

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