Paixão de quatro gerações

O Palestra Itália, fundado em 1914, vira Palmeiras em 1942, carregando também a bandeira do Brasil.

A história de minha família está entrelaçada com a trajetória do Verdão. Explico: não sou apenas um palmeirense do interior, sou filho de palmeirense do interior, neto de palestrino que virou palmeirense no interior, e bisneto de italiano que veio para o interior do Brasil e se tornou palestrino. Portanto, são décadas de herança cultural.

Como palmeirense do interior, vi o Palmeiras no estádio em poucas oportunidades. Mas sempre acompanhei suas partidas pelo rádio e pela televisão. Este ano o Palmeiras completa 93 anos e isto me faz lembrar do ano de 1993. Eu tinha 17 anos de idade. O Palmeiras estava numa fila de 17 anos sem ganhar títulos importantes.

A final do campeonato paulista foi contra o Corinthians. No primeiro jogo 1 a 0 para os adversários. Foi uma das semanas mais angustiantes da minha juventude, agravada pelos anos seguidos esperando pelo momento mágico de ser campeão pela primeira vez. Parecia que ficaríamos mais uma volta em torno do Sol sem nos livrar daquele peso.

Vesti a camisa verde várias vezes naquele período e com ela suportei todas as provocações dos torcedores de outros times. Apesar da apreensão, estava confiante. Finalmente o dia do jogo decisivo chegou. Sentei-ma na sala de casa com meu irmão mais velho e meu pai. Minha mãe ficou na cozinha com a irmã caçula, pois até hoje são corintianas, as pobrezinhas.

O placar em branco estava se arrastando, judiando do coração palestrino de meu pai. Andando de um lado para outro, entre a cortina da janela e a porta do vestíbulo, quando resolveu ir para a varanda tomar ar fresco. Neste momento Zinho fez o primeiro gol do Palmeiras! Poucas vezes escutei meu pai correndo e gritando, para então formar um abraço triplo inesquecível.

Foi um alívio momentâneo. Logo a inquietação retornou para o colo de todos e meu pai ausentou-se novamente do recinto: 2 a 0 Palmeiras! Não preciso dizer que logo pedimos para o pai sair da sala mais vezes e, acreditem ou não, daqueles quatro gols antológicos meu pai só viu o de Evair, cobrando pênalti já na prorrogação.

Era o fim de uma longa espera e o começo de uma festa cuja intensidade nunca mais alcancei novamente, nem quando o Brasil venceu as Copas de 1994 e 2002, nem quando o próprio Palmeiras veio a ganhar a Libertadores de 1999. Talvez pelo fato de nenhum destes campeonatos terem sido precedidos por tanta vontade acumulada de ser campeão.

Meu irmão pegou o carro e seguimos para o centro da cidade, de onde partiram muitos palmeirenses numa carreata tão extensa quanto animada. As rádios reprisavam a narração dos gols da partida, nas vozes memoráveis de Osmar Santos e Fiore Gigliotti. Nunca o bordão "crepúsculo de jogo...fecham-se as cortinas do espetáculo" foi ouvido com tamanha felicidade.

Apoiado sobre a janela lateral do carro, estendi a bandeira do Palmeiras entre os braços abertos e os punhos cerrados, usando uma camisa de manga comprida número 9, que tremulava com a brisa que os céus sopravam nos vencedores. Tive a certeza naquele momento de que meu filho, quando nascer, será palmeirense.

Nestes 93 anos de glórias do eterno Palestra, a minha gratidão por ser mais um torcedor do Palmeiras. Do interior sim, mas muito perto do sentimento verde e branco.

Publicado originalmente no site do Ponto Verde - loja de produtos oficiais do Palmeiras. O texto foi um dos três premiados na promoção cultural de aniversário do clube.

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