O primeiro projeto de uma menina de 7 anos. |
Um ano sem sair de casa. Já joguei banco imobiliário com minha filha e minha esposa, damas, dominó, autorama. A menina se apegou ao notebook, para assistir aulas, e ao celular da mãe, por causa dos games. Ela passa várias horas do dia vendo vídeos das Chiquititas e da Turma da Mônica no YouTube. De vez em quando vai para o quintal tomar sol.
Nós procuramos seguir à risca os cuidados em relação à Pandemia do Coronavírus. Eu mesmo já fui chamado de medroso por alguns amigos e até familiares. Tive bronquite na infância. Sei qual é a sensação de afogar no seco. Somente agora, com a escalada assustadora de casos da doença e de óbitos, maneiraram comigo.
Enfim, tento entreter minha filha pequena. Ela aprendeu a ler e escrever sozinha, aos cinco anos de idade. Então, dei uma tarefa para ela: ler um capítulo por dia de um livro com histórias da carochinha, gravando sua voz e imagem no celular. Uma forma de evitar as distrações danosas. Existem jogos on-line onde a garotada apenas aprende a falar palavrões. Aqui em casa tem uma lei: ninguém fala palavrão.
Um dia inventei de ensinar minha filha a mexer no programa que faz maquetes eletrônicas para projetos de Arquitetura. Deixei ela sentar na minha cadeira giratória e fui ditando os comandos para ela. Passamos quase uma manhã de sábado se distraindo com isso. Fizemos uma casinha de apenas um cômodo, num terreno gramado com calçada de pedras sortidas.
Acabo de expor parte da intimidade da minha casa e da minha família. Já ouvi conselhos para não fazer isso. Porém, vejo muita gente angariando seguidores justamente exagerando neste tipo de exposição. Nunca fui bom nisso: angariar seguidores.
Tenho presença na Internet há mais de vinte anos. Fui um dos pioneiros em ter site próprio no Brasil. Eu deveria ter milhões de seguidores nas redes sociais. Mas sou um fiasco nisso, embora nunca tenha dado bola para esse tipo de notoriedade.
Sempre pautei minha produção de conteúdo para a Internet em entregar algo relevante, sem pegadinhas e sem apelações. Sem pesquisar o que as pessoas querem ler, ouvir ou assistir. Meu canal no YouTube está no ar desde 2007 e ainda assim não passei de sete mil inscritos. Muito pouco, embora a qualidade dos inscritos seja alta e colaborativa, no meu entender. Basta ver o teor dos comentários.
Confesso: não tenho carisma para gravar vídeos - não faço caras e bocas feito um personagem folclórico. Meu negócio é fazer projetos e escrever. Foi assim que comecei a carreira como arquiteto e me tornei escritor e editor de livros. Mesmo como escritor, só produzo aquilo que acredito ser algo positivo para alguém ler. Nunca fiz promoção para ganhar seguidores. Com isso, tenho menos de mil inscritos no Twitter e menos de cinco mil seguidores no Instagram.
Isso nunca me incomodou. Nunca pautei minhas atenções nisso. Sempre quis fazer bons projetos e escrever ou editar bons livros. No entanto, hoje, dia 27 de março de 2021, me arrependo de ter negligenciado o poder de alcance da Internet.
Vi muitos garotos começarem a se expor na rede bem depois de mim e angariar milhões de seguidores. Vejo muitos "decoradores de interiores" suplantando arquitetos em popularidade, fora os "educadores financeiros" que falam um monte de obviedades (e algumas asneiras) para milhões de pessoas diariamente. Só que essa turma não quer se expor com um assunto chato: a Pandemia do Coronavírus.
É neste sentido que reside meu arrependimento. Se tivesse milhões de pessoas prestando atenção em mim, certamente falaria a respeito do estado de guerra que estamos vivendo. Na verdade já falo e escrevo sobre isso, apenas para perder alguns dos poucos seguidores que tenho.
Não importa. Considero uma obrigação moral tocar neste assunto. Não sei que parte da história as pessoas perderam, então vou resumir:
1) Se puder, fique em casa.
2) Se tiver que sair, use a máscara.
3) Lave as mãos frequentemente.
4) Mantenha o distanciamento social.
5) Evite aglomerações.
6) Aguarde sua vez de tomar a vacina.
7) Compartilhe isso com seus amigos e parentes.
Sim, reconheço: tenho a benção de poder trabalhar em casa. Aliás, nunca trabalhei tão intensamente como em 2020 no mercado editorial: entreguei simplesmente seis livros para lançamento. Se é verdade que minha carreira de arquiteto estacionou ou mesmo declinou, pois recusei iniciar contratos novos para poder dar conta dos contratos pendentes, também é verdade que fiz reservas suficientes para poder enfrentar os rigores da quarentena.
Porém, vejo muitas pessoas que poderiam fazer o que faço e não fazem. Não se importam. Pelo contrário: se expõem desnecessariamente. Saem por aí para comprar coisas supérfluas, fazem churrasco com várias pessoas. Vão a festas. Gente do céu! Não é época para fazer essas coisas! Será que se você deixar de ir a uma festa, você perderá parte importante da sua vida? Acorda!
Sei que tem muita gente que precisa sair de casa para trabalhar. Essas coisas me cortam o coração. Considero que medidas como o lockdown sacrificam milhares de famílias. Porém, se a população tivesse plena consciência dos sete pontos que enumerei anteriormente, as medidas mais radicais não seriam necessárias.
A omissão dos grandes influencers neste sentido precisa ser levada em conta. Se essa gente não pode reservar um espaço em suas ações para tocar neste assunto, significa que o dinheiro está falando mais alto. Se moralmente esses famosos instantâneos podem ser cobrados, legalmente não há nada que possa ser feito.
O mesmo não se aplica às lideranças políticas. Essas, sim, precisam ser cobradas judicialmente. A omissão do poder executivo federal neste sentido é cristalina. Já passou da hora de trocar essa gente incompetente e negacionista. Porém, quem levantará a voz contra o Mito e sua legião de adoradores? Somente alguns colunistas isolados da mídia e uma oposição política esvaziada, tendo em vista que o Centrão não enxerga outra realidade que não seja a manutenção do poder.
Uns não querem perder seguidores. Outros não querem perder dinheiro. Outros não querem perder poder político. Mas você pode perder seus pais, seus avós, seus filhos, seus amigos, seu emprego, sua vida.
Se puder, fique em casa. Se sair, use a máscara. Lave as mãos constantemente. Mantenha o distanciamento social. Evite aglomerações. Aguarde com paciência a sua vez de receber a vacina.
— Jean Tosetto (@JeanTosetto) March 12, 2021
Já perdi a conta de quantas vezes escrevi isto. Mas são as palavras que importam propagar hoje.
Se a omissão é um pecado, não quero padecer dele. Para você eu peço: se puder, fique em casa. Para o nosso capitão-mor eu ordeno:
- Vada a bordo, cazzo!
Uma pena, mesmo, que pouca gente vai ler esse texto. Menos gente vai repassá-lo para frente. Assunto chato, né? Ninguém aguenta mais isso, mas ninguém toma providência. Então, se você me acompanha há algum tempo e sabe da minha postura e do meu posicionamento, me ajude neste sentido. A gente já viu que não dá para esperar orientações vindas lá de cima. Temos que resolver nossos problemas aqui mesmo, na trincheira.
Seja um líder entre seus amigos. Seja um líder na sua família. Seja um líder na sua comunidade e replique as seguintes orientações:
1) Se puder, fique em casa.
2) Se tiver que sair, use a máscara.
3) Lave as mãos frequentemente.
4) Mantenha o distanciamento social.
5) Evite aglomerações.
6) Aguarde sua vez de tomar a vacina.
7) Compartilhe isso com seus amigos e parentes.
No Brasil deste 27 de março de 2021, mais de três mil pessoas estão morrendo por dia. Faça a sua parte para reverter isso. Se não for pelo amor de Deus, que seja pelo amor da humanidade.
Saudações de apreço,
Jean Tosetto
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