Projeto e construção: aspectos históricos

Construído no final do século XIX, o museu (abandonado) de Paulínia foi uma das primeiras residências do núcleo urbano que deu origem à cidade.
Construído no final do século XIX, o museu (abandonado) de Paulínia foi uma das primeiras residências do núcleo urbano que deu origem à cidade.

Sinopse da segunda aula - dias 14 e 16 de agosto de 2006 - do Núcleo de Estudos de Habitação da Faculdade de Administração Pública - Universidade São Marcos - Campus Paulínia - SP.

Por Jean Tosetto

Conforme discutido anteriormente, a questão do projeto é pouco valorizada pelos agentes públicos que trabalham com políticas habitacionais, especialmente no que tange as classes menos favorecidas.

Antes de se falar em novos aspectos que devem ser atendidos no momento de se pensar um projeto, deve-se ter em mente uma abordagem histórica sobre tais conceitos, para se compreender como os costumes e a tecnologia de uma determinada época influenciam no modo como as habitações são projetadas e construídas. No Brasil podemos traçar o seguinte panorama:

A herança colonial portuguesa (1500-1800)

As primeiras residências urbanas do Brasil, nos tempos coloniais, tinham seu funcionamento baseado no trabalho escravo, que recolhia por exemplo as águas servidas (esgoto) dos moradores em vasilhas que eram despejadas em rios e lagoas. Não havia portanto o banheiro. As casas térreas e assobradadas eram construídas sobre o alinhamento das ruas e sem corredores laterais, resultando em dormitórios sem janelas - as alcovas.

A influência da Corte (1800-1850)

Com a chegada da Corte portuguesa ao Brasil vem também costumes mais refinados, denotados pela criação da Academia Imperial de Belas Artes e a presença da Missão Cultural Francesa. As casas passam a contar com porões altos e algum "rebuscamento" em suas fachadas, apesar de manter praticamente inalteradas as demais características, com paredes grossas feitas de taipa e telhados simplificados.

A contribuição dos imigrantes europeus (1850-1900)

O trabalho escravo entra em decadência neste período, sendo substituído pelo trabalho remunerado dos imigrantes europeus de outros países, como Itália, Espanha e Alemanha, que trazem novas técnicas construtivas e equipamentos. As cidades, assim como as casas, ganham serviço de água e esgoto e surgem os afastamentos laterais ajardinados entre as construções.

O princípio da industrialização (1900-1945)

Apesar dos sinais cada vez mais fortes da introdução de atividades comerciais e industriais nas cidades, as construções de modo em geral ainda se apóiam em costumes de épocas anteriores, embora se verifique o surgimento das primeiras casas com jardins frontais e a implantação das primeiras vilas operárias. As transformações tecnológicas se refletiam apenas em adaptações da arquitetura, desconsiderando-se os aspectos urbanísticos.

O Brasil urbano do pós-guerra (1945-1975)

Após o fim da Segunda Guerra Mundial o Brasil recebe uma nova leva de imigrantes de diversas regiões do planeta e experimenta profundas transformações estruturais com a implantação de industrias de base (siderurgias e refinarias de petróleo) e automobilística. O automóvel começa a fazer parte da vida das famílias, assim como a televisão, com reflexos na implantação das residências. Algumas capitais experimentam rápido crescimento populacional e verticalização das construções residenciais - prédios de apartamentos.

A explosão das grandes cidades (1975-1995)

Movimentos migratórios internos são cada vez mais intensos, verificado pelo êxodo rural que promove o inchaço das chamadas metrópoles, ao passo que a economia brasileira passa por dificuldades. Programas habitacionais são criados, mas não dão conta da crescente demanda, apesar das casas serem simplificadas ao máximo. As favelas e ocupações, antes limitadas pontualmente nas periferias, passam a fazer parte do cenário urbano de forma disseminada.

Novas urgências sem respostas (1995 - hoje)

A complexidade da questão habitacional cresce de forma exponencial. Com o advento da revolução da informática não basta mais ser apenas alfabetizado, é preciso saber lidar com um computador, e da mesma forma os novos projetos devem levar isso em conta. Além disso é necessário lidar com o perfil populacional que está mudando: existem cada vez mais idosos. Existe também um grande contingente portador de deficiências físicas. Finalmente não se pode fechar os olhos para o meio ambiente, especialmente com os recursos hídricos cada vez mais escassos.

A seguir: Moradia digna, cidadania & meio ambiente

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