Campinas, 13 de março de 2016

A Avenida Anchieta tomada por manifestantes defendendo o Brasil.
A Avenida Anchieta tomada por manifestantes defendendo o Brasil.

"Não podemos ficar o tempo todo assistindo a História acontecer. Cedo ou tarde é preciso tomar uma posição. E nossa posição é clara: é a favor do Brasil. Se isto significa ser contra os corruptos, o problema é de quem defende os corruptos." 
- Jean Tosetto

Hoje cedo acordei sentindo um chamamento. Muitas pessoas passam a vida sem saber o que é isso, pois acontece raramente. Algo me dizia para ir até as ruas neste 13 de março de 2016. Fiquei afastado das discussões políticas desde que comecei a perder amigos por causa disso, percebendo em seguida que não eram amigos de verdade.

Como não estou disposto a perder meu país, telefonei para o meu pai. Achei que ele queria ficar em casa, com medo de se expor numa manifestação. Estava enganado. "Passe aqui e me dê carona" - ele respondeu.

Seguimos de Paulínia para Campinas. Ingenuamente procurei por um estacionamento perto do Largo do Rosário. Todos fechados. Ruas do centro tomadas por gente de verde e amarelo. Rodamos mais de meia hora pelas imediações da passeata até encontrar uma vaga perto do Bosque dos Jequitibás, a várias quadras do olho do furacão.

Apressei o passo, esquecendo que meu pai tem quase 70 anos de idade. "Vamos devagar, Jean" - disse ele. "O Brasil não pode esperar, pai". Ninguém mais pode esperar.

Vimos casais de idosos empunhando bandeiras do Brasil. E crianças aprendendo a entoar frases patrióticas. Abraçamos gente estranha. Ninguém ali tinha partido. Todos eram brasileiros, de fato e de direito.

A multidão cantou o Hino Nacional. Mais do que emocionante, foi histórico, pacífico, democrático e espontâneo. O espontâneo veio por último na frase, mas é preciso frisar sua relevância.

Vão manipular as informações nos dias seguintes? Com certeza. Críticos tendenciosos poderão nos chamar de massa alienada de manobra? Sim. Quem se importa?

Não podemos ficar o tempo todo assistindo a História acontecer. Cedo ou tarde é preciso tomar uma posição. E nossa posição é clara: é a favor do Brasil. Se isto significa ser contra os corruptos, o problema é de quem defende os corruptos.

Em certo momento meu pai sumiu no meio da multidão. Nestes segundos de apreensão, procurei por ele lembrando que, naquele mesmo centro histórico de Campinas, eu e meu irmão havíamos nos perdido dele há mais de 35 anos, só para descobrir, logo depois, que ele estava nos filmando com sua câmera Super 8.

Não importa o episódio que vou relatar: sempre lembro de meu irmão. Hoje era um dia para estarmos juntos, apesar da tristeza do cenário que envolve o Brasil.

E lá estava meu pai, me filmando de novo. Não mais com uma câmera Super 8, mas com sua máquina digital. "Vamos almoçar, pai. Vou te levar num lugar legal". Antes era ele que me levava para lugares legais.

Caminhamos até o Centro de Convivência, onde acontecia a tradicional feira de artesanato. Fui até a barraca que serve massas italianas. Perguntei se a senhora elegante sabia de algum canto em Campinas que servia Agnolotti de ricota com tomates secos e brócolis. "É aqui mesmo, moço" - ela respondeu sem tirar o sorriso do rosto. "Então me vê dois."

Meu pai comprou Coca-Cola na barraca do lado. O sujeito que nos serviu foi questionado: "Você não tem medo de usar camisa vermelha justamente hoje?" - Ele se defendeu feito um bom malandro carioca: "Mas essa é a única camisa que tenho!"

Dali voltamos para o nosso carro, caminhando com a sensação do dever cívico cumprido.

Não sei qual rumo o Brasil tomará. Não sei se tais manifestações terão alguma influência nos destinos políticos da nação. Mesmo que tudo dê errado neste sentido, lembrarei deste dia com ternura, por ter passado a data com meu pai, como há muito tempo não fazia.

A vida revela momentos únicos quando você atende a um chamamento.

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