Faculdade não é campeonato de Fórmula 1

Faculdade não é campeonato de Fórmula 1 - por Jean Tosetto

Saber captar o cliente e depois saber apresentar o projeto é tão fundamental como saber desenvolver o trabalho dentro do escritório. Para tanto, ter jogo de cintura é mais importante do que ser perfeccionista.

Mensagem recebida em 09 de maio de 2016:

"Primeiramente quero parabenizá-lo pelo seu blog, onde tantos jovens recebem sua atenção quanto às suas dúvidas ao ingressar ou não na futura profissão de arquiteto.

Tenho lido as perguntas, dúvidas e suas respostas.

Tenho uma filha que acabou de completar 18 anos e ingressou na faculdade de Arquitetura e Urbanismo na UFRGS. Quando mais nova falava em fazer Biologia, mas após eu ter feito o curso de técnico em segurança do trabalho e ter feito uma cadeira de desenho técnico, ficou simplesmente encantada me ajudando a realizar uma planta de um banheiro e sala de aula, foi aí que ela decidiu que quando terminasse o ensino médio faria o vestibular para Arquitetura.

Agora. ao ingressar na faculdade, está fazendo as sete cadeiras e está tendo uma certa dificuldade de administrar o tempo tanto na realização dos trabalhos como quando nas provas com desenhos, pois é perfeccionista, se exigindo para que tudo fique perfeito e assim andou se atrapalhando na primeira prova, não conseguindo terminá-la e não tirando uma nota muito boa, o que a deixou muito triste, pois se preocupa com o histórico escolar, que sempre o teve com notas altas e pretendendo num futuro próximo conseguir bolsa para fazer intercâmbio. 

Fico angustiada em vê-la entrando madrugadas adentro, fazendo trabalhos, maquetes, não se alimentando direito, dormindo muito pouco e não poder ajudá-la.

Também teve uma certa dificuldade com a cadeira de cálculo ficando também com uma nota não tão boa. 

Não rodou em nenhuma cadeira, porém deseja melhorar suas notas, pensou em consultar com um psicólogo pois anda muito irritada por não saber administrar o tempo com trabalhos, estudo para as provas.

Gostaria se possível da tua opinião quanto a como orientá-la.

Passei teu blog para ela ver, ela achou muito bacana.

Desejo que Deus continue te abençoando com muita saúde, luz. 

Abraço, 

Elisa"

Nossa resposta, compartilhada com você:

Prezada Elisa,

Agradeço as palavras de carinho pelo meu trabalho relacionado ao blog, que há muitos anos escapou da proposta original, que era apresentar os meus projetos.

Com relação ao seu questionamento, fique tranquila e tranquilize sua filha. O que ela está passando na faculdade de Arquitetura é exatamente o que muitos estudantes enfrentam nos primeiros anos do curso.

Uma coisa é tirar notas boas no colegial, feito em meio período, outra é conseguir repetir o feito na universidade, que por isso mesmo recebe o nome de universidade, pois tem um universo de conhecimentos circulando pelo campus e pelas cabeças dos alunos.

Eu mesmo passei por isso e fiquei triste com algumas notas baixas no primeiro semestre. Também tive dificuldade em cálculo diferencial, até que percebi algo importante, fazendo duas comparações da faculdade com um campeonato de Fórmula 1.

A primeira é que um piloto, para ser o campeão do ano, não precisa ganhar todas as corridas: seu carro pode ser muito bom em pistas de longas retas, mas ser apenas regular em circuitos travados de rua. O importante é marcar pontos nas provas mais difíceis e debulhar nas pistas mais favoráveis.

Então veio veio a segunda e mais importante constatação: nós, enquanto alunos, não estamos competindo uns contra os outros, pois o objetivo comum é que todos se formem com honras. A competição, para valer, acontece lá fora e, acredite, nenhum cliente vai perguntar as notas que sua filha tirou na faculdade.

Sua filha será competitiva no mercado de trabalho se tiver uma boa base na faculdade e reunir atributos que não se ensinam nas universidades, como relacionamento interpessoal e noções de administração do escritório e da própria carreira.

Em suma: saber captar o cliente e depois saber apresentar o projeto é tão fundamental como saber desenvolver o trabalho dentro do escritório. Para tanto, ter jogo de cintura é mais importante do que ser perfeccionista.

Arquiteto 1.0: um bom livro é um investimento para a vida.
Arquiteto 1.0: um bom livro é um investimento para a vida.

No mais, recomendo a leitura do livro "Arquiteto 1.0 - Um manual para o profissional recém-formado" que escrevi em parceria com o professor Ênio Padilha, disponível para encomenda em vivalendo.com

Atenciosamente,
Jean Tosetto - Arquiteto

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