Lições milenares de Roma que Paulínia ainda não aprendeu

Ponte sobre o Rio Tibre que conduz ao Castelo de Sant'Angelo em Roma, Itália.
Ponte sobre o Rio Tibre que conduz ao Castelo de Sant'Angelo em Roma, Itália.

O império romano construiu pontes e estradas para garantir seu domínio sobre as regiões conquistadas. Dois milênios depois, Paulínia ainda está atrasada neste sentido.

Por Jean Tosetto

Roma, a capital da Itália, é uma cidade conhecida mundialmente por abrigar o Vaticano e por ser o berço do Império Romano, que há quase dois milênios moldou os fundamentos da Cultura Ocidental ao promover a junção do direito romano com a filosofia grega e a ética judaico-cristã.

Roma é mais do que um livro de História aberto e mais do que um museu ao ar livre. A Cidade Eterna sobreviveu aos séculos graças à robustez de sua Arquitetura e aos seus esforços na construção de pontes e estradas. Não por acaso: "Todos os caminhos levam à Roma".

Quem tem o prazer de visitar a clássica metrópole, sabe que ela é cortada pelo Rio Tibre, que por sua vez é vencido em vários pontos por pontes - uma mais bela que a outra. Além das pontes, os romanos construíram viadutos e aquedutos - muitos deles por meio de arcos plenos de pedras encaixadas que resistem até hoje.

Desde modo, Roma estabeleceu-se como sede do Império que no seu auge abarcava toda boa parte  da Europa, o Oriente Médio e o Norte da África, contornando o Mar Mediterrâneo. As pontes e estradas romanas garantiram por séculos o desenvolvimento econômico de todo o entorno da Península Itálica.

Com todos os problemas atuais típicos de um grande cidade, os romanos são apaixonados pelo lugar onde vivem. Subentendida em outro ditado famoso - "Em Roma, fale como os romanos" - está a orientação para não falar mal da cidade que acolhe turistas de todo o mundo.

A estrada entre Paulínia e Jaguariúna, no interior de São Paulo, que pouca gente conhece.
A estrada entre Paulínia e Jaguariúna, no interior de São Paulo, que pouca gente conhece.

Do outro lado do Oceano Atlântico estou em Paulínia. Como arquiteto que atua nesta cidade do interior de São Paulo, não deveria falar mal dela, afinal de contas, Paulínia é parte da minha trajetória e do meu sustento. Mas por ser apaixonado pela minha cidade, me permitam tecer algumas críticas construtivas sobre ela.

O perímetro urbano de Paulínia é cortado pelo Rio Atibaia, que separa a região central da região do João Aranha, onde ficam loteamentos fechados importantes, como o Residencial Campos do Conde I e II, o Fontanário, o Residencial Aurora, o Residencial Raízes, além dos populosos Jardim Planalto, Residencial São José I e II e Marieta Dian. É muita gente morando nesta região e muito carro circulando também.

É um absurdo que a região do João Aranha seja ligada ao centro de Paulínia por apenas uma ponte sobre o Rio Atibaia. Deste modo, quem precisa ir para Campinas ou São Paulo, e voltar destas cidades, deve passar pelo centro de Paulínia. Resultado: a cidade com apenas 100 mil habitantes sofre com engarrafamentos feito uma cidade grande.

Parece tão óbvio, mas precisamos escrever: quem governa Paulínia deveria ter a seguinte prioridade: construir pelo menos mais duas pontes para desafogar o João Aranha. A primeira ponte seria para a região do Parque da Represa, de modo que a Rodovia Anhanguera pudesse ser acessada diretamente. A segunda ponte nem precisaria ser sobre o Rio Atibaia, mas deveria ligar o João Aranha à Rodovia Professor Zeferino Vaz. Quem mora no Jardim Calegaris agradeceria profundamente esta decisão.

Ecologia e Matemática

O que custa mais ao meio ambiente? Fazer mais uma ponte sobre o Rio Atibaia, ou respirar o ar dos dois engarrafamentos diários, de manhã e no fim da tarde? Carros andando a menos de 10 km/h perto de escolas e matas ciliares... A resposta me parece clara.

E será que todos os caminhos levam até Paulínia? Como certeza não. Como Paulínia se relaciona com municípios vizinhos? Vejamos:

A principal ligação com Campinas é feita pela Rodovia Professor Zeferino Vaz e, a despeito do trânsito complicado nos horários de pico, ainda teremos que ser gratos se o governo estadual e a concessionária não construírem uma praça de pedágio no meio do percurso.

O caminho alternativo, pela Estrada da Rhodia que liga Paulínia com o Distrito de Barão Geraldo em Campinas, está seriamente prejudicado com a interdição da ponte sobre o Rio Anhumas há alguns anos. É uma vergonha para a classe política que isso ainda não tenha sido resolvido. Como isso sofrem os moradores de Betel, que serve de desvio para essa rota. Ou seja: a ligação entre Paulínia e a Unicamp, mais dois hospitais importantes, está precária.

Na outra ponta temos Cosmópolis. A única via asfaltada para lá é também a Rodovia Professor Zeferino Vaz, quem tem uma praça de pedágio. Isso prejudica a população menos abastada que precisa se deslocar entre as cidades. O caminho secundário é uma estrada vicinal de terra, que passa sobre uma antiga ponte da linha de trem desativada que, se é difícil de se percorrida de dia, é intransitável de noite.

Muitos buracos - pouca sinalização

Na mesma região do funil entre o Rio Atibaia e o Rio Jaguari, temos a vicinal asfaltada que liga Paulínia com Americana, perto da divisa com Limeira. Eis uma estrada de importância fundamental, que se encontra esburacada, sem sinalização e sem acostamento. Uma vergonha para uma cidade que tem uma das arrecadações mais altas do Brasil.

Em estado semelhante está a vicinal que liga Paulínia com o Distrito de Nova Veneza, em Sumaré, partindo do Parque da Represa. Se esta via estivesse em melhores condições, poderia desafogar a principal ligação de Paulínia com a Rodovia Anhanguera, no viaduto que também dá acesso para Hortolândia.

Deixei a situação mais absurda para o final: Paulínia faz divisa com o município de Jaguariúna, na borda do Circuito Paulista das Águas, mas pouca gente se atenta para isso. Há uma estrada vicinal, parcialmente asfaltada, que liga as duas cidades. Esta via parte das imediações da Replan, perto do clube recreativo de seus funcionários, e chega no entorno da Unifaj - Centro Universitário de Jaguariúna. Este caminho simplesmente está interditado, há vários anos, por um portão metálico trancado, e não há explicação lógica para este fato.

Esta é uma estrada que deveria ser livre e asfaltada, pois evitaria que o morador de Paulínia passasse pela congestionada Rodovia Dom Pedro em Campinas para acessar o Circuito Paulista das Águas e o Sul de Minas Gerais. ao invés disso, temos que dar uma volta grande e pagar mais um pedágio.

Cobre de seu candidato

"O desenvolvimento econômico de Paulínia, Jaguariúna, e outras cidades das imediações que se dane". Esta parece ser a mensagem que os políticos e governantes da nossa região transmitem para a população.

Eles deveriam seguir o exemplo de Roma: focar na construção de pontes e estradas. Isso é tão óbvio! Mas essa classe não enxerga - ou não quer enxergar - o óbvio. Eles gostam de passar as férias nos parques da Disney, na Flórida, e esse mundo de faz de conta deve turvar o entendimento deles.

Minha sugestão para os nossos políticos: troquem umas férias em Orlando por uma visita em Roma. Por favor, aprendam algo com os romanos. Mas dos romanos antigos nossos políticos seguem apenas uma péssima lição: eles ficam maquinando como vão derrubar o próximo governante.

Meu amigo paulinense: nas próximas eleições municipais, pergunte sobre Roma para o candidato que bater na porta da sua casa, para pedir seu voto.

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