Arquitetura de Interiores: campo aberto para jovens profissionais


Estudo de projeto para escritório de profissional liberal.
Estudo de projeto para escritório de profissional liberal.

A Arquitetura de Interiores vai muito além de escolher cores e texturas para paredes, mobílias e utensílios práticos ou meramente decorativos. O estudo do layout dos ambientes pode implicar em intervenções nas instalações hidráulicas e elétricas e até mesmo em questões estruturais, nas quais o arquiteto, diferentemente do decorador, terá autoridade para discutir soluções com os engenheiros envolvidos no processo.

A Mariana Maciel adquiriu i livro "Arquiteto 1.0" e nos escreveu em maio de 2016:

"Olá Jean, bom dia!

Finalizei seu livro tem um mês. Inclusive o indiquei a algumas amigas recém formadas.


Quero lhe parabenizar pelo conteúdo: tópicos importantes para nós, jovens arquitetos, que nos fazem questionar o HOJE fazendo uma reflexão pelos tempos de vida acadêmica.

Foi muito importante para mim, ler os exemplos de profissionais e os nichos em que tiveram a oportunidade de explorar.

É justamente nesse ponto que gostaria da sua ajuda.

Me formei em 2014, e em 2015 fiz um intercâmbio para Londres. Sonho antigo que por diversas questões pude realizar apenas no final da faculdade. O que achei muito bom.

Desde os tempos de Graduação, penso muito sobre os nichos de mercado em que poderia me inserir como profissional; visto o amplo leque da Arquitetura neste sentido.


Por preconceito, sempre tive um certo distanciamento em relação ao mercado de Interiores. O pensamento que estudei durante anos uma gama de assuntos que partiam desde Desenho, passando por Conforto Ambiental, Topografia, Urbanismo dentre outras, que essa parte me convinha certa "futilidade". Já mudei um pouco minha concepção em relação ao assunto, inclusive tenho muito interesse de estudo na área hoje em dia.

Por outro lado, sempre compreendi que a Arquitetura tem o poder de transformar vidas, cidades e integrar pessoas. Desta maneira, tenho um grande interesse na área de Acessibilidade.

Ao mesmo tempo, me sinto confusa e me cobro em fazer a escolha de uma especialidade dentro da área. 

Não quero me tornar uma profissional que faz de tudo um pouco, não conhecendo na verdade nenhum assunto profundamente.

Tenho muita necessidade em voltar a estudar, venho pesquisando cursos de especialização, e no futuro gostaria de fazer Mestrado fora do país.

Sei que pontuei diversas questões e estou confusa e sedenta por uma área a seguir. Mas quero me tornar uma ótima profissional no que eu optar.

Agradeço se puder me ajudar com uma opinião e conselho como profissional.


Muito obrigada,
Mariana Maciel"

Nossa resposta:

Prezada Mariana Maciel,

Agradeço que tenha apreciado a leitura do livro "Arquiteto 1.0", corroborando a expectativa que eu tinha, em conjunto com o professor Ênio Padilha, a respeito da eficácia da obra para os profissionais recém-formados e mesmo os estudantes universitários.

Parabéns pelo intercâmbio feito em Londres. Tenha a certeza de que esta experiência lhe será válida em todos os sentidos, não apenas os profissionais, mas sobretudo os pessoais. A vivência de outras culturas nos prepara para enfrentar eventuais adversidades em nosso meio. E como Londres é uma cidade realmente cosmopolita, você escolheu bem o destino de seu primeiro ano como formada.

Realmente, o preconceito com relação à Arquitetura de Interiores é veladamente estimulado por alguns professores de disciplinas mais tradicionais da faculdade, com seu grau variando de universidade para universidade. Não tenho dados científicos para avaliar a questão, mas acredito que as instituições particulares, mais voltadas para o mercado de trabalho, tratam a Arquitetura de Interiores com mais objetividade, ao passo que nas instituições públicas as questões teóricas, e mesmo as ideológicas, são mais valorizadas.

Em verdade, é na Arquitetura de Interiores que muitos profissionais jovens vão encontrar o caminho de suas carreiras, especialmente nas grandes cidades que estão no ciclo de revitalizar os centros históricos, onde o tecido urbano está composto e não há muitas possibilidades para a atuação convencional dos arquitetos. Adequar o que já existe é fundamental e, para tanto, o profissional deve aplicar também as questões de Conforto Ambiental, Acessibilidade e até de Urbanismo, nas eventuais intervenções da obra com o espaço público. Note que este campo de atuação não é mera competição com a Decoração de Interiores.

A Arquitetura de Interiores vai muito além de escolher cores e texturas para paredes, mobílias e utensílios práticos ou meramente decorativos. O estudo do layout dos ambientes pode implicar em intervenções nas instalações hidráulicas e elétricas e até mesmo em questões estruturais, nas quais o arquiteto, diferentemente do decorador, terá autoridade para discutir soluções com os engenheiros envolvidos no processo.

Não se engane: para deslanchar neste ramo de atividade, é preciso muito estudo e dedicação, tanto quanto nas demais especialidades, e neste ponto discordo do pensamento corrente que afirma que um arquiteto não pode fazer de tudo um pouco: se ele quiser ser um sobrevivente no mercado brasileiro ele deve sim, ter abertura para aprender e trabalhar em tudo o que lhe é de direito.

Deixo como exemplo a minha própria carreira: por muitos anos trabalhei primordialmente com projetos residenciais na minha cidade. Ao perceber que o novo plano diretor do município acabou com as restrições para construção de edifícios de apartamentos com vários andares, percebi que teria menos demanda para projetos a longo prazo e passei a observar outros campos de atuação. Atualmente desenvolvo, também, projetos para empreendimentos industriais e comerciais, que vão desde galpões de logística até instalações fabris. E, como você é testemunha, comecei a escrever livros também.

Na Arquitetura os profissionais devem ser maleáveis e faz parte da natureza dos mesmos ter a capacidade para atuar em áreas paralelas. Desenvolva isso, pois o especialista em perspectiva feita na prancheta com caneta nanquim de ontem, está desempregado hoje.

Com relação ao mestrado, não vou dizer que me arrependo de não ter feito. Assim que me formei tive a possibilidade de seguir na carreira acadêmica, mas fiz a escolha consciente de seguir como profissional autônomo, na minha pequena cidade que estava "explodindo" com novos loteamentos.

Mas hoje, entre cursar uma especialização e fazer um mestrado, eu escolheria seguir direto com o mestrado, pois me possibilitaria ingressar na docência. Há alguns anos tive uma experiência como professor convidado e, se tivesse tempo e foco na época, teria continuado neste campo que me deu muito prazer.

Continue lendo e se aperfeiçoando. Você é jovem e tem muitos desafios pela frente. A carreira de uma arquiteta é longa e permite correções de rumo, sempre que elas forem necessárias. Não se prenda aos paradigmas de sua origem e esteja aberta para novas experiências, pois o sucesso vem naturalmente para aqueles que estão ocupados querendo fazer algo relevante para a sociedade.

Que a luz esteja com você!

Jean Tosetto

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2 comentários:

  1. Bacana seu ponto de vista Jean a respeito de "nichos" pois amo praticamente tudo na arquitetura e por mais que eu tente não consigo focar em um tema apenas, não me sentiria uma arquiteta, por isso o meu medo de fazer, e pior ainda, passar em concurso publico rs

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    1. Prezada Silvana, parte da beleza do ofício da Arquitetura, é que lidamos com escalas diversas, desde utensílios domésticos até cidades inteiras.
      Considero essa história de focar num nicho específico de trabalho um dogma que estão querendo implantar na cabeça dos mais jovens. Estar aberto às possibilidades é muito mais interessante: lembremos dos arquitetos, escultores, pintores e inventores renascentistas, que eram tudo isso e ainda arranjavam tempo para a Filosofia e Teologia.

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