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Edifício Terra Nova de Barão Geraldo em Campinas - 2014~2019

A região do Real Parque, no distrito de Barão Geraldo, em Campinas, agora conta com este edifício comercial de usos variáveis.
A região do Real Parque, no distrito de Barão Geraldo, em Campinas, agora conta com este edifício comercial de usos variáveis.

Poucos verbos combinam tão bem com "empreender" como o verbo "construir". Tanto que em certos aspectos eles são sinônimos - especialmente na Arquitetura, onde "empreendimento" e "construção" são palavras da mesma família.

No Brasil, construir é uma tarefa cara, ainda mais num país onde o planejamento de longo prazo é alterado sempre que os ventos mudam na Economia. Por isso, os empreendedores - e construtores - da edificação retratada aqui, optaram por não trabalhar com dinheiro emprestado.

As primeira conversas em torno do projeto foram iniciadas no final de 2014. Já o primeiro semestre de 2015 foi dedicado ao desenvolvimento da versão definitiva, que foi apresentada em sua forma simplificada na Prefeitura Municipal de Campinas, cujo processo de análise e aprovação consumiu vários meses.

Enquanto isso, nossos contratantes se prepararam para começar a obra em 2016. Com 328 metros quadrados divididos em dois pavimentos, num terreno de 337 metros quadrados, o projeto ocupou toda a área permitida pelas leis locais. Os dois pavimentos forma concebidos com planta livre, prevendo algumas divisões internas com paredes do tipo "Drywall".

O pavimento térreo tem pé-direito de 4,7 metros de altura e permite a adoção de um mezanino parcial para estocar mercadorias. Já o pavimento superior conta com pé-direito de 3,2 metros. Ambos contam com sanitários masculinos e femininos, além do sanitário de acessibilidade para pessoas com necessidades especiais, pois há estrutura para instalação de um elevador neste sentido.

A parte principal da obra se estendeu até os primeiros meses de 2017. Quando chegou a etapa do acabamento fino da obra, como a instalação das esquadrias de alumínio e o assentamento de pisos cerâmicos, a obra entrou num período de maior lentidão, para não sacrificar o fluxo de caixa dos investidores. Deste modo, os serviços se estenderam até 2018.

No começo de 2019 faltava obter o Habite-se por parte da Prefeitura de Campinas. Mesmo com a contratação de um escritório especializado neste tipo de burocracia, o processo se arrastou por semanas, mas finalmente foi concluído em tempo do edifício ser entregue para os locatários.

Depois de quase cinco anos de espera, finalmente o empreendimento começou a gerar renda passiva. Quem sabe, no futuro, os próprios construtores do edifício possam usar ele para negócios próprios, como era a ideia original. Porém, vale lembrar, o Brasil é um "país onde o planejamento de longo prazo é alterado sempre que os ventos mudam na Economia."

Ainda assim, projetar é preciso.

Acompanhe a evolução deste empreendimento ao longo dos meses, nas imagens a seguir.


Perspectiva da fase de estudos do projeto, iniciada em novembro de 2014.
Perspectiva da fase de estudos do projeto, iniciada em novembro de 2014.

Corte longitudinal do projeto formalizado e aprovado durante o ano de 2015.
Corte longitudinal do projeto formalizado e aprovado durante o ano de 2015.

Visita em obra antes da concretagem das vigas baldrames, durante janeiro de 2016.
Visita em obra antes da concretagem das vigas baldrames, durante janeiro de 2016.

A impermeabilização do alicerce foi inspecionada em fevereiro de 2016.
A impermeabilização do alicerce foi inspecionada em fevereiro de 2016.

As paredes de alvenaria do pavimento térreo ganham corpo em abril de 2016.
As paredes de alvenaria do pavimento térreo ganham corpo em abril de 2016.

A laje piso, do tipo protendida com enchimento de poliestireno expandido, sendo montada em junho de 2016.
A laje piso, do tipo protendida com enchimento de poliestireno expandido, sendo montada em junho de 2016.

A fachada lateral parcialmente rebocada em outubro de 2016.
A fachada lateral parcialmente rebocada em outubro de 2016.

O pavimento superior em estágio de acabamento durante o mês de janeiro de 2017.
O pavimento superior em estágio de acabamento durante o mês de janeiro de 2017.

A edificação concluída e fotografada em junho de 2019.
A edificação concluída e fotografada em junho de 2019.

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Vivalendo.com recomenda:

Arquitetura, prevenção e combate a incêndios

Facilitar o trabalho de prevenção e combate a incêndios é uma das atribuições dos arquitetos.

Arquitetos e engenheiros precisam se impor como atores decisivos nos processos construtivos, transmitindo noções de responsabilidade para seus clientes e para os usuários das obras que projetam e executam.

Mensagem recebida em 17 de novembro de 2016:

"Olá Jean, boa tarde.

Parabéns pelo seu site, estive lendo hoje com calma e possui vários artigos importantes para quem atua na área da construção civil.

Estive lendo o artigo “Arquiteto ou Engenheiro” e gostei muito, principalmente na parte que diz o que deve ser combatido pelos conselhos profissionais CREA e CAU.

Uma coisa que me chama muita atenção é o fato de que alguns arquitetos não possuem o mínimo de conhecimento sobre segurança e proteção contra incêndio, principalmente a proteção passiva que é algo inevitável de se pensar ao desenvolver um projeto arquitetônico.

O que se ouve muito é "precisamos aprovar o projeto no bombeiro" e a questão e os conceitos básicos de segurança muitas vezes são deixados de lado, como podemos ler nessa matéria

As universidades dão pouca importância para o assunto da segurança e incêndio dentro da grade do curso de Arquitetura.

Qual seria seu ponto de vista com relação a esse assunto?

Atenciosamente,
William Vieira - WHL Engenharia"

Nossa resposta:

Caro William,

Grato pelo contato e por ler os artigos que compartilho com prazer. Sobre sua questão, não respondo pelos arquitetos que você conhece, mas apenas por mim: não me considero especialista em projetos de prevenção e combates a incêndios, por isso conto com uma parceria que desenvolve este tipo de trabalho, sempre que seja necessário em algum projeto arquitetônico que eu esteja envolvido.

Logicamente não posso ser um leigo no assunto, e preciso dominar conhecimentos técnicos na área, sem os quais não tenho como fazer a compatibilização dos projetos complementares. Eis uma dificuldade no ofício da Arquitetura: ser um profissional generalista com capacidade de dialogar com especialistas numa ponta e com leigos - eventualmente os contratantes - na outra.

Os arquitetos precisam ser didáticos com seus  clientes. É comum que eles reclamem da largura excessiva de corredores de circulação, em detrimento do tamanho das salas comerciais ou institucionais que estes alimentam. Também há reclamações sobre as portas com barras anti-pânico que só abrem para fora e não podem ser de correr. Já passei pela experiência de explicar para um empresário que sua academia de ginástica, no pavimento superior de um sobrado, deveria ter uma segunda escada para atender casos de emergência, sendo bem compreendido.

Por outro lado, já tive que recusar um trabalho onde o cliente em potencial queria fazer tudo ao seu modo, amparado numa consultora de interiores que simplesmente ignorava aspectos básicos de acessibilidade universal, que também tem reflexos positivos na segurança passiva de uma edificação. Não sei se algum concorrente aceitou o serviço nestas condições - se o fez, provavelmente recorreu às brechas das normas e procedimentos de aprovação dos projetos para seguir adiante. Reside aí um grande perigo para a sociedade: quantos projetos são feitos "para inglês ver" e são executados de modo distinto?

Mais do que temer as eventuais fiscalizações dos conselhos profissionais, arquitetos e engenheiros precisam se impor como atores decisivos nos processos construtivos, transmitindo noções de responsabilidade para seus clientes e para os usuários das obras que projetam e executam. Não creio que profissionais que centralizam demais as decisões de seus projetos sejam os mais eficientes e reside aí a importância dos especialistas em cada área, não só para prevenção e combate a incêndios, como para instalações hidráulicas e elétricas, estruturas diversas e outros sistemas.

Neste ponto a professora da FAU USP, Rosaria Ono, que concedeu a entrevista para a Revista Techne que você mencionou, tem razão quando afirma que o projetista tem que dar, em linhas gerais, as condições para o especialista propor soluções de prevenção e combate a incêndios, minimizando a eventual incompatibilidade do projeto. Para tanto, o entrosamento entre os profissionais é fundamental: engenheiros e arquitetos precisam conversar muito bem, superando eventuais rixas que só os mais ingênuos alimentam.

Grande abraço,
Jean Tosetto - Arquiteto

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Projeto para nova sede da Primeira Igreja Batista em Jaguariúna - 2014~2016

A Primeira Igreja Batista em Jaguariúna - PIBJ - pretende construir seu templo na Avenida Antonio Pinto Catão, um importante vetor de crescimento da cidade.
A Primeira Igreja Batista em Jaguariúna - PIBJ - pretende construir seu templo na Avenida Antonio Pinto Catão, um importante vetor de crescimento da cidade.

Entre estudos e aprovações, o projeto para a nova sede da PIBJ levou um ano e meio para ser formalizado. Já a construção levará mais alguns anos para ser concluída.

Quem é jovem nesta segunda década do século 21, está habituado com as tecnologias da comunicação instantânea, de modo que tal imediatismo contamina vários aspectos de sua vida. Neste contexto, fica difícil assimilar que certas coisas exigem um tempo bem mais cadenciado para acontecer. É o caso das construção de templos religiosos de igrejas tradicionais - aquelas que não alugam barracões para funcionar e não compram antigas salas de cinemas falidos para ocupar os centros urbanos cada vez mais deteriorados.

As igrejas tradicionais, entre elas as protestantes históricas, dependem muito das comunidades locais para construírem seus templos, dado que não usufruem de programas de rádio e TV para lhe potenciarem a arrecadação de dízimos. Sem pastores que agem como estrelas do entretenimento, tais comunidades fazem um trabalho de formiguinhas, englobando um aspecto social negligenciado em parte pelo poder público. São em instalações religiosas, por exemplo, que muitas crianças carentes aprendem noções de inglês, instrumentos musicais e informática, gratuitamente.

Por isso, quando a Primeira Igreja Batista de Jaguariúna - PIBJ - me convidou para participar de uma entrevista para eventual desenvolvimento de uma proposta de prestação de serviços de Arquitetura, aceitei sem pensar duas vezes, pois sei que eles fazem um trabalho sério, que vai além dos conceitos religiosos. Mesmo com duas décadas de carreira, entre faculdade e escritório, fiquei emocionado ao saber que havia sido escolhido, entre outros três profissionais, para conduzir o projeto arquitetônico e demais projetos complementares.

Trabalhar para uma comunidade religiosa é bem diferente de trabalhar para um casal que pretende construir uma casa, ou para sócios de uma empresa que planeja investir em seu patrimônio imobiliário. Quando se trata de uma residência, seu projeto precisa ser convincente para o casal que vai construí-la - quase não há interferência externa no processo. Empresários costumam ser práticos na hora de encomendar um projeto, quando as reuniões são mais curtas e objetivas. Já numa comunidade religiosa, é necessário lidar com uma diretoria com várias pessoas, sabendo que lá na frente será preciso ter o consenso de dezenas de membros da entidade. É impossível agradar a todos plenamente.

Por isso, entre idas e vindas, leva um bom tempo para desenvolver um projeto para uma comunidade religiosa. Nesta hora, a ansiedade pode até bater na porta, mas não podemos deixa-la entrar no escritório.

O projeto arquitetônico original da PIBJ, tal qual apresentado para aprovação na Prefeitura Municipal de Jaguariúna, ocorrida sem pedido de correções, após exaustiva análise das leis locais por parte deste arquiteto.
O projeto arquitetônico original da PIBJ, tal qual apresentado para aprovação na Prefeitura Municipal de Jaguariúna, ocorrida sem pedido de correções, após criteriosa análise das leis locais por parte deste arquiteto.

Devido aos altos custos verificados para construir a nova sede da PIBJ, um segundo projeto, para um salão comunitário, foi encomendado com área reduzida, que funcionará provisoriamente como templo religioso até a conclusão da nave definitiva.
Devido aos altos custos verificados para construir a nova sede da PIBJ, um segundo projeto, para um salão comunitário, foi encomendado com área reduzida, que funcionará provisoriamente como templo religioso até a conclusão da nave definitiva.

Dois projetos para o mesmo terreno

A PIBJ possui um lote de 2.750 m² numa região em expansão, próxima ao centro urbano da cidade. A área já conta com uma residência de 145 m² que será preservada no programa da comunidade. Como o terreno possui um declive considerável, desenvolvemos o projeto arquitetônico em três níveis. O pavimento inferior não é visto pela testada, mas tem acesso pelos fundos, onde há uma recepção, secretaria, almoxarifado, sanitários masculino e feminino e quatro salas para usos diversos - entre eles a escola dominical.

A nave com o altar fica no pavimento térreo e tem capacidade para atender até 160 pessoas. Há uma saleta de som e um vestíbulo que a separa dos acessos principais, onde há uma rampa para cadeirantes que desemboca diretamente na calçada pública. Do vestíbulo temos acesso para a escada, elevador, sanitário para pessoas com necessidade especiais e um berçário com copa quente e fraldário, além de uma janela para a nave, para que as mães dos bebês possam acompanhar os cultos.

No pavimento superior fica o mezanino com vista para o altar, com capacidade para até 26 pessoas, onde o coral poderá enriquecer a experiência dos participantes das atividades da igreja. Ao todo, a nova sede da PIBJ terá 646 m² em seu edifício principal. O projeto foi aprovado em meados de 2015, coincidindo com a notoriedade da crise econômica brasileira.

Temerosa com a possibilidade de iniciar uma obra que seria difícil concluir em curto prazo, por causa da compreensível queda acentuada das doações de seus membros, a diretoria da PIBJ acionou o plano B: a aprovação de um projeto menor, recuado em relação ao projeto principal, que futuramente poderia ser o salão comunitário da entidade, mas que num primeiro momento a livraria de pagar o aluguel das instalações atuais.

Este segundo projeto foi elaborado com apenas um pavimento e 223 m² de área, mantendo, no entanto, a capacidade para 160 pessoas em dias de culto. Há ainda os sanitários masculino, feminino e para pessoas com necessidades especiais, além de um pequeno depósito. A aprovação do mesmo ocorreu na virada para o ano de 2016. No conjunto arquitetônico projetado resultante, a PIBJ contará com 20 vagas internas para automóveis, duas das quais para pessoas com necessidades especiais.

A nave central da igreja terá cobertura com estrutura metálica, com tesouras atirantadas entre si e terças que suportarão as telhas do tipo sanduíche, pintadas de branco para refletir os raios solares.
A nave central da igreja terá cobertura com estrutura metálica, com tesouras atirantadas entre si e terças que suportarão as telhas do tipo sanduíche, pintadas de branco para refletir os raios solares.


No projeto das instalações hidrossanitárias, o detalhamento do lavabo para pessoas com necessidades especiais, visto em planta baixa para o esgoto, e elevação para alimentação das peças.
No projeto das instalações hidrossanitárias, o detalhamento do lavabo para pessoas com necessidades especiais, visto em planta baixa para o esgoto, e elevação para alimentação das peças.

Trabalho de equipe

Em meu livro "Arquiteto 1.0 - Um manual para o profissional recém-formado" afirmo que o bom profissional não deve trabalhar apenas com o projeto arquitetônico, mas oferecer uma gama de serviços aos seus contratantes, que englobem os projetos complementares, mesmo quando feitos por terceiros.

Sendo coerente com o que escrevi, fiz questão de constituir uma equipe de trabalho multidisciplinar para entregar, para a diretoria da PIBJ, um projeto que fosse o mais completo possível. Além do projeto arquitetônico, desenvolvemos as instalações hidrossanitárias e o detalhamento da cobertura metálica. Com a colaboração de profissionais de primeira linha entregamos também o cálculo estrutural, o projeto de prevenção e combate a incêndios, a maquete eletrônica, o projeto de instalações elétricas e até o projeto de SPDA - Sistema de Proteção contra Descargas Atmosféricas - que recorre ao uso de para-raios em torno da cobertura da edificação.

Para todos estes profissionais, listados nas legendas a seguir, registro publicamente o meu agradecimento pelos bons serviços prestados.

Aspecto da planta baixa do pavimento inferior em projeto de instalações elétricas assinado pelo engenheiro eletricista Sylvio Zanetti.
Aspecto da planta baixa do pavimento inferior em projeto de instalações elétricas assinado pelo engenheiro eletricista Sylvio Zanetti.

Detalhe da planta de locação das estacas das fundações do prédio principal, cujo cálculo estrutural foi desenvolvido pela Torniziello & Vechini Consultoria e Engenharia.
Detalhe da planta de locação das estacas das fundações do prédio principal, cujo cálculo estrutural foi desenvolvido pela Torniziello & Vechini Consultoria e Engenharia.

Seção transversal do projeto de prevenção e combate a incêndios, elaborado pela Almeida & Scaglia Engenharia.
Seção transversal do projeto de prevenção e combate a incêndios, elaborado pela Almeida & Scaglia Engenharia.

A maquete eletrônica do projeto foi renderizada no escritório da arquiteta Lidia Arantes.
A maquete eletrônica do projeto foi renderizada no escritório da arquiteta Lidia Arantes.

Os trabalhos prosseguem

Até aqui contamos a história do projeto para a nova sede da PIBJ. Falta contar a história da construção do conjunto arquitetônico. Sem os recursos em caixa, não há como prever uma data para a conclusão dos trabalhos. Obviamente dependerá do envolvimento de toda a comunidade. Se há uma certeza, é de que desejamos acompanhar essa história até o final, e reportar para os nossos amigos leitores o resultado deste sonho que começou lá atrás. Pressa? Não podemos ter. Ainda não inventaram um smartphone que faça uma obra de tal porte acontecer rapidamente, apenas deslizando paredes inteiras com a ponta dos dedos.

Veja também:


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Residência Leite no Residencial Paineiras em Paulínia - 2013~2014

De linhas limpas e volumetria de clara compreensão, esta casa de cores suaves combina fontes naturais de luz e ventilação com privacidade.
De linhas limpas e volumetria de clara compreensão, esta casa de cores suaves combina fontes naturais de luz e ventilação com privacidade.

Este projeto representou um desafio específico para o arquiteto: combinar uma casa térrea de 184 m² num lote de 344 m², considerando que ela não deveria ter degraus internos, num terreno com declive acentuado tanto no sentido transversal como no sentido longitudinal.

Com isso, a garagem para os carros, que inicialmente foi pensada para ficar na rua lateral da esquina, foi deslocada para a rua da frente, junto do acesso social e de um depósito voltado para o corredor lateral. O primeiro cômodo da casa é um lavabo, mas logo à direita temos a sala de estar e jantar com pé-direito alto, integrada com a cozinha americana por um balcão. A cozinha, por sua vez se liga com a lavandeira e despensa por um lado, e com a varanda gourmet pelo outro, servida por um sanitário externo.

Esta casa possui duas suítes e dois dormitórios simples - um deles reversível em escritório ou sala de TV. O acesso para eles foi dividido em dois halls no lugar de um corredor. O hall da sala de estar se comunica com a suíte geriátrica, com banheiro preparado para receber pessoas com necessidades especiais ou da terceira idade. Já o hall da sala de jantar alimenta os dormitórios simples servidos por um banheiro social e a suíte do casal com closet e banheiro privativo com banheira de hidromassagem.
A seção transversal do projeto mostra a sala de estar e jantar com pé-direito elevado (em bege) e a torre da caixa de água (em azul) com capacidade para abrigar também o "boiler" de água de aquecimento solar.
A seção transversal do projeto mostra a sala de estar e jantar com pé-direito elevado (em bege) e a torre da caixa de água (em azul) com capacidade para abrigar também o "boiler" de água de aquecimento solar.

Bandeiras de iluminação e ventilação natural, controladas eletronicamente, garantem o conforto térmico nas salas de estar e jantar, mesmo em dias quentes de verão.
Bandeiras de iluminação e ventilação natural, controladas eletronicamente, garantem o conforto térmico nas salas de estar e jantar, mesmo em dias quentes de verão.

O estudo da fachada, feito a mão livre, prevê a integração dos muros de fechamento do lote com o partido arquitetônico do imóvel.
O estudo da fachada, feito a mão livre, prevê a integração dos muros de fechamento do lote com o partido arquitetônico do imóvel.

A rampa de acesso para os automóveis tem suavidade suficiente para o uso eventual de cadeira de rodas na extremidade direita, mesmo num lote de inclinação considerável.
A rampa de acesso para os automóveis tem suavidade suficiente para o uso eventual de cadeira de rodas na extremidade direita, mesmo num lote de inclinação considerável.

Trabalho em equipe

A residência da Família Leite no Paineiras, em Paulínia, marcou o início da parceria do arquiteto Jean Tosetto com a Romanzza Premium Campinas, no segmento de móveis planejados. Um ação que não se resume à simples indicação da marca para os contratantes, senão o efetivo trabalho em conjunto no desenvolvimento do projeto complementar de interiores, consistindo em reuniões da equipe de desenho da Romanzza no escritório do arquiteto, para revisão e aprimoramento das propostas, antes mesmo delas serem apresentadas.

O entrosamento imediato deste arquiteto com a designer Barbara e a arquiteta Bruna, da Romanzza, foi surpreendente e resultou na fluidez do desenvolvimento dos detalhes, em consonância também com as expectativas dos contratantes. Todo o planejamento até a entrega dos móveis foi monitorado pessoalmente, com o respaldo técnico para sanar questões pontuais geradas na obra ou ainda na fase dos projetos executivos de cada ambiente. Portanto, uma parceria transparente e efetiva.

Em função do closet da suíte do casal atuar como um cômodo autônomo, o planejamento dos armários foi feito sem o uso de portas de fechamento.
Em função do closet da suíte do casal atuar como um cômodo autônomo, o planejamento dos armários foi feito sem o uso de portas de fechamento.

A varanda gourmet, detalhada pela equipe da Romanzza, atua como uma segunda cozinha completa da casa, em comunicação direta com a primeira.
A varanda gourmet, detalhada pela equipe da Romanzza, atua como uma segunda cozinha completa da casa, em comunicação direta com a primeira.

A mesma varanda gourmet, concluída dentro do prazo previsto, segue as linhas gerais do projeto arquitetônico, de conceito "clean" e contemporâneo.
A mesma varanda gourmet, concluída dentro do prazo previsto, segue as linhas gerais do projeto arquitetônico, de conceito "clean" e contemporâneo.

Nesta obra queremos agradecer também ao engenheiro eletricista Sylvio Zanetti, pelo projeto de instalações elétricas cada vez mais completo, e aos colaboradores do empreiteiro Ricardo Laudate que, assim como o patrão, trabalharam com a dedicação que se espera daqueles que atuam na construção civil.

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O que podemos aprender com os Shoppings?

Por Jean Tosetto *

Em 2006 fui convidado para ministrar um curso sobre mobilidade urbana para alunos da efêmera Faculdade de Administração Pública de Paulínia. Um dos exercícios mais interessantes que propus foram visitas comparativas entre o centro comercial tradicional de Campinas e um Shopping Center localizado na Rodovia Dom Pedro.

Elaborei um questionário que funcionou como um roteiro elucidativo para destacar as diferenças fundamentais entre os dois tipos de espaços. A primordial todos já sabiam: o centro da cidade era um espaço público e o Shopping era um espaço privado, embora de acesso público. Passados alguns anos, tal exercício continua válido, diante de cenários que praticamente não se alteraram.

A calçada pública sofre com degraus, desníveis, sujeira, diferentes tipos de acabamento, postes mal planejados, além de ser estreita e espremida pelos automóveis. Falta ao centro da cidade um padrão de comunicação visual.
A calçada pública sofre com degraus, desníveis, sujeira, diferentes tipos de acabamento, postes mal planejados, além de ser estreita e espremida pelos automóveis. Falta ao centro da cidade um padrão de comunicação visual.

Para entrar num Shopping, geralmente você desce de um ônibus coletivo ou deixa o carro num bolsão de estacionamento, caminha 100, 200 ou mesmo 300 metros até ingressar por uma porta convidativa. Os carros e os ônibus ficam do lado de fora. E no centro da cidade? Os carros passam a poucos centímetros das vitrines das lojas, propagando fumaça e barulho para os pedestres. Só neste aspecto temos duas questões: a poluição ambiental e a poluição sonora.

No centro da cidade, nossos ouvidos são bombardeados por buzinas e vendedores falando ao megafone. Fora aqueles carros de som, sempre com o volume mais alto do que o aceitável. No Shopping a música ambiente é controlada. Os limites estão claramente estabelecidos.

A poluição visual também é um agravante. Nas ruas das cidades, cada loja procura chamar mais atenção do que a concorrência. Luminosos escondem as fachadas originais dos prédios e uma profusão de ofertas é praticamente pichada em cartazes. Os postes de energia, repletos de placas e papéis colados, carregam fios expostos que deturpam qualquer intenção de qualidade estética.

Já nos Shoppings, as vitrines também guardam diferenças entre si, mas existem certos padrões com relação à largura e altura de cada loja, e cada ponto comercial só funciona se apresentar um rigoroso projeto de arquitetura de interiores à administração do local.

A circulação de um Shopping é livre da sujeira e dos carros, tem acabamento uniforme e é livre de obstáculos. A presença de vigilantes bem vestidos transmite confiança aos transeuntes. A qualidade espacial é superior à vista nos locais públicos.
A circulação de um Shopping é livre da sujeira e dos carros, tem acabamento uniforme e é livre de obstáculos. A presença de vigilantes bem vestidos transmite confiança aos transeuntes. A qualidade espacial é superior à vista nos locais públicos.

Os corredores dos Shoppings, sempre de boa largura e acabamento padronizado para favorecer a circulação das pessoas, são livres de degraus não planejados, desníveis, buracos e manchas de chiclete - que considero um símbolo perfeito para a falsa noção de espaço público, difundida no Brasil. Caminhe pelas ruas brasileiras e comece a contar as marcas de chiclete no chão. As pessoas cospem isso no espaço público, pois consideram que este não possui dono, quando na verdade todos nós somos proprietários dele.

Os chicletes mastigados deveriam ser jogados em lixeiras, mas elas praticamente não existem nas ruas, e são abundantes nos Shoppings. Além do mais, os Shoppings possuem sanitários limpos, escadas rolantes, ar condicionado e vigilância permanente.

O Estado ausente

Se perguntarmos para a maioria das pessoas o motivo pelo qual elas preferem ir ao Shopping do que ao centro da cidade, elas vão citar justamente a questão da segurança, esquecendo de todo o resto. Mas é todo o resto que faz a diferença, e mesmo que os produtos e serviços oferecidos nos Shoppings sejam mais caros em função destes diferenciais, tais lugares continuam atraindo mais gente, deixando para o comércio de rua a opção de diminuírem a margem de lucro, trabalhando com artigos mais populares.

Alguns centros comerciais, em função de seus preços mais acessíveis, continuam sendo bem movimentados, mas eles deixaram de ser um programa para famílias que buscam lazer além das compras. É por isso que nossas praças públicas ficaram desertas nos fins de semana.

Como os gestores públicos podem reverter ou ao menos equilibrar esta tendência? Em primeiro lugar ocupando o espaço público com o policiamento comunitário, mas também adotando leis para regular a comunicação visual, padronizar as calçadas e dotá-las de acessibilidade universal. E o mais difícil: alterar o sistema viário para recuperar as vias públicas para os pedestres, que sim, são mais importantes do que os carros.

Logicamente várias outras medidas são necessárias, que os agentes públicos não podem tirar de uma cartola, como num passe de mágica. É neste momento que o papel do urbanista é fundamental.

A premência do urbanista

Com a criação do CAU – Conselho de Arquitetura e Urbanismo – no começo da década de 2010, todos os arquitetos passaram a ser denominados também como urbanistas. Porém, na prática, poucos arquitetos atuam realmente como urbanistas: a maioria está enclausurada nas atividades acadêmicas e os poucos que trabalham na iniciativa privada são responsáveis justamente pelos melhores condomínios e loteamentos fechados das grandes cidades.

É muito difícil ver um urbanista trabalhando como urbanista em qualquer prefeitura. Em regra geral, os departamentos de planejamento urbano das cidades são tocados por engenheiros, desenhistas práticos e até por profissionais de outras áreas, colocados ali mediante cargos de confiança. A situação ideal seria que cada prefeitura pudesse contar com um escritório municipal de urbanismo, para municiar legisladores e gestores públicos com soluções para curto, médio e longo prazo.

Como arquiteto e urbanista, faço um “mea-culpa”. Nós, urbanistas, não conseguimos articular um discurso compreensível para a população e para classe política, justificando a importância de nossa atuação. Os urbanistas gostam muito de participar de congressos e palestras, para tomar café a vontade e sonhar com a cidade ideal. A realidade lá fora indica que os urbanistas não participam do planejamento e do crescimento das cidades, tarefa que fica sob a tutela de políticos mesclados com grandes especuladores imobiliários.

A julgar pelos novos condomínios e loteamentos fechados que estão sendo lançados a cada ano, posso atestar que os urbanistas que atuam em seus projetos são muito competentes. Muitas das regras adotadas nestes empreendimentos são as mesmas que valem para loteamentos abertos, como por exemplo, o recuo frontal mínimo de quatro a seis metros, e a proibição de construção de mais de uma casa por lote.

É interessante notar que as pessoas, assim como preferem pagar mais caro pela mesma camisa polo num Shopping, procuram os loteamentos fechados para morar. Elas se sujeitam a respeitar as regras internas, que muitas vezes seriam desrespeitadas lá fora – os puxadinhos e as casas geminadas estão aí para provar. Por alguma razão as pessoas acreditam que, respeitando as regras, a valorização de seus imóveis estará garantida.

Neste ponto voltamos à noção de espaço público. Se as regras são parecidas, como fazer para alterar a cultura de que espaço público é espaço de ninguém? Se todos nós respeitarmos as regras que já existem, vamos recuperar também a qualidade de vida em nossas cidades. Isso vale tanto para as residências como para o comércio.

Fiscalizar é preciso

Muitas vezes, as regras só são respeitadas quando existe fiscalização. Em qualquer Shopping existe muita fiscalização interna, embora ela pareça camuflada. Associações de loteamentos fechados e condomínios contratam engenheiros e arquitetos para fiscalizarem o andamento das obras e avaliar os projetos para construção.

Infelizmente as cidades pecam por não investir em fiscalização nos espaços públicos e loteamentos abertos. Esse é o tipo de atividade que costuma ser impopular e, como todo brasileiro sabe, os políticos em sua maioria pensam mais na próxima eleição do que propriamente no bem da cidade.

Por isso, o tecido urbano das cidades está cada vez mais desorganizado, os entulhos se acumulam em terrenos baldios, os sacos de lixos transbordam em bocas de lobo e as edificações estão cada vez menos iluminadas e ventiladas naturalmente.

Neste ciclo viciado, cada vez mais as pessoas vão procurar refúgio momentâneo dentro de Shoppings e loteamentos fechados. Se a noção do espaço público como terra de ninguém prevalecer, então os centros tradicionais estarão condenados à decadência - o mesmo valendo para os loteamentos abertos e as periferias, sempre esquecidas pelos agentes públicos.

É isto que desejamos para as nossas cidades? Claro que não. Então precisamos comprar mais do que roupa e comida nos Shoppings: precisamos comprar as boas ideias que seus gestores privados talvez não queiram vender, mas que são de graça.

* Jean Tosetto é arquiteto e urbanista formado pela FAU PUC de Campinas, tem escritório próprio desde 1999 e é autor do livro "MP Lafer: a recriação de um ícone"publicado em 2012.

Veja também:

A casa conceito: idéias para construir em novos tempos
Inclusão via desenho universal 
O espelho da democracia
V - Desenvolvimento urbano
I - A inclusão social pela mobilidade urbana
Mais textos

Desenho Universal em foco no Guia da Construção do Estadão PME em 2012

Reprodução da capa da publicação.

O Guia do Estadão PME - Pequenas e Médias Empresas - da Construção é um anuário dos mais importantes do setor no Brasil, com a tiragem de 70 mil exemplares distribuídos em todo o território nacional, nas lojas e empresas do ramo da construção civil. Para 2012, a pauta de uma das matérias que antecedem a lista de anunciantes era sobre acessibilidade e desenho universal. Para elaborar o artigo, a jornalista Renata Bernardis entrou em contato com alguns profissionais com domínio sobre o tema. O arquiteto Jean Tosetto foi um deles. Em dezembro de 2011 ele concedeu uma entrevista e forneceu diversas imagens para a elaboração da reportagem. As respostas serviram de base para o texto final e, obviamente, não haveria espaço editorial para reproduzir todas as respostas na íntegra, que agora são publicadas neste site.


As rampas para cadeirantes em passeios públicos devem ser acompanhadas por faixa de pedestres e ter inclinação máxima de 8,33%.

1) O desenho universal é a palavra-chave para alcançar a acessibilidade? Por que?

A acessibilidade universal não é um conceito que pode se pensado e executado apenas com o pretenso bom senso ou com boa vontade. É preciso ter conhecimento específico e capacidade técnica para planejar e executar móveis, edificações e espaços urbanos que sejam acessíveis para o maior número possível de cidadãos. O estudo do desenho universal é a mola mestra que dá embasamento para a produção de normas técnicas, que depois serão exigidas por leis que, se devidamente fiscalizadas, trarão benefícios para toda a sociedade.

 2) O modo de projetar virou lei, mas é seguido? Quem segue? Quem fiscaliza? No Brasil todo? Desde quando?

No Brasil existem leis que pegam e leis que não pegam. Desde dezembro de 2004 todos os profissionais envolvidos com projetos de edificações – engenheiros, arquitetos e urbanistas – são obrigados a atender as Normas Técnicas de Acessibilidade da ABNT em obras de construção, reforma ou ampliação de espaços de uso público ou coletivo. Ficam de fora as residências unifamiliares.

A primeira etapa de fiscalização começa na aprovação do projeto nas prefeituras municipais. Aí acontece a primeira lacuna, num país de dimensões continentais, onde muitas prefeituras sequer possuem um engenheiro contratado para analisar os projetos. Porém, em muitos casos a fiscalização tem sido rigorosa, especialmente nas licitações públicas.

3) Quais são as leis? 

Existem duas Leis Federais – nº 10.048 de 8 de novembro de 2000 e nº 10.098 de 19 de dezembro de 2000 – que foram regulamentadas pelo Decreto 5.296 de 2 de dezembro de 2004, onde se que lê que elas estabelecem “normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida.”

Com relação à normas técnicas, a ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas - lista 19 NBRs relacionadas direta ou indiretamente com pessoas portadoras de necessidades especiais, das quais se destaca a NBR 9050 – Acessibilidade a Edificações, Mobiliário, Espaços e Equipamentos Urbanos.

4) Quais são os parâmetros estipulados em normas e que podem ser discutidos, cobrados pela sociedade e fiscalizados pelas autoridades?

O problema com as normas técnicas no Brasil, é que elas são desenvolvidas por uma entidade de direito privado que naturalmente não as disponibilizam gratuitamente ao público, dificultando a disseminação deste tipo de conhecimento para a maior parte da população. Por isso o Ministério Público propôs um termo de ajustamento de conduta para publicar as normas relativas a acessibilidade universal na Internet.

A principal fiscalização é feita pelo próprio cidadão, desde que ele tenha conhecimento das normas. Por exemplo, se um cadeirante ingressa numa loja, pede para usar um sanitário e se vê impedido de fazer isso, ele pode fazer uma denúncia formal ao Ministério Público, que a princípio convocará, para prestar esclarecimentos, o escritório que projetou a loja, a prefeitura que aprovou o projeto, a construtora responsável pela obra, e finalmente o proprietário da edificação. Se o arquiteto demonstrar que fez o projeto corretamente e a prefeitura consequentemente aprovou o projeto, ambos serão notificados por não terem fiscalizado a construção. Já o empreiteiro e o dono do imóvel se encontrarão numa situação mais difícil. De todo modo, outro termo de ajustamento de conduta será feito, estipulando um prazo razoável para a correção da demanda.

Motociclista usa a rampa para estacionar - a população brasileira ainda precisa se conscientizar sobre o direito de acessibilidade de terceiros.

A comunicação entre ambientes internos e externos deve ser livre de degraus – o acabamento dos pisos deve ser anti-derrapante.

5) O governo pode ser exemplo a ser seguido? Ele tem dado esse exemplo?

Em linhas gerais, tanto os governos nas três esferas – municipal, estadual e federal – quanto a iniciativa privada, estão praticamente no mesmo estágio em relação à acessibilidade universal. O que existem são exemplos pontuais, que aos poucos vão se multiplicando, e torcemos para que este processo se acelere cada vez mais. Poderíamos citar as estações do metrô de São Paulo como uma iniciativa pioneira que, antes de qualquer promulgação de lei, já se preocupava com esta questão. Aliás, a cidade de São Paulo foi a primeira capital brasileira a criar uma CPA – Comissão Permanente de Acessibilidade. Na cidade catarinense de Blumenau, temos o centro urbano remodelado já há mais de 10 anos, levando em conta vários princípios de acessibilidade.

E mais recentemente, há menos de um ano, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos promoveu um programa de reforma, adequação e padronização das agências franqueadas, exigindo o total respeito à acessibilidade universal. Tive inclusive a oportunidade de trabalhar em dois casos e, num deles, foi necessário propor uma pequena intervenção urbanística para facilitar o acesso das pessoas com necessidades especiais, com a criação de rampas nos dois passeios públicos da rua, interligadas por uma faixa de segurança para pedestres, com demarcação de vagas para idosos no leito carroçável.

6) O que prega o desenho universal? Por que surgiu?

O conceito primário do desenho universal surge praticamente embutido com o primeiro projeto de arquitetura, há mais de dois mil anos. Quando você tem a oportunidade de ler o Tratado do Vitrúvio - um arquiteto romano da era clássica – poderá encontrar diversas menções relativas à escala humana. Um exemplo muito claro está, curiosamente, no desenho que Leonardo Da Vinci fez do “Homem Vitruviano”, que nada mais é do que uma tentativa de estabelecer uma espécie de módulo baseado nas proporções humanas, a partir do qual qualquer projeto poderia ser desenvolvido.

Quando, popularmente, convencionamos que a altura padrão de uma porta é próxima de 2,20 metros, estamos praticamente incluindo nesta medida a quase totalidade dos seres humanos – o que em tese é o objetivo do desenho universal: democratizar o uso de produtos, edificações e cidades para todas as pessoas, não somente as consideradas “normais”. Se o conceito já é antigo, a denominação do termo surgiu apenas na década de 1960, no ambiente universitário dos Estados Unidos. Mas não devemos nos esquecer dos alemães, que foram uns dos pioneiros na elaboração de muitas normas técnicas. Cabe mencionar que, entre os estudantes de arquitetura, há um livro de fácil referência, que apesar de datado dos anos de 1940, ainda funciona como uma introdução ao tema: “A Arte de Projetar em Arquitetura”, que é mais conhecido apenas pelo sobrenome do autor, Ernst Neufert.


O podotátil, espécie de piso em alto relevo, serve para orientar deficiente visuais – os lineares indicam a continuidade do caminho, já os circulares significam mudança de direção e limite do percurso.

Parte dos guichês de atendimento devem ser mais baixos e permitir que os cadeirantes se aproximem dos interlocutores – vide cavidade abaixo do tampo.

7) Quais as vantagens?

A grande vantagem do desenho universal é a inclusão social, sem dúvida.

Não basta fazer uma lei para obrigar as empresas de maior porte a reservar vagas de emprego para pessoas com deficiência física, se elas não conseguem chegar ao local de trabalho, então, quando uma cidade como Curitiba investe milhões de reais em planejamento urbano e cria um sistema de transporte coletivo no qual as pessoas não precisam subir verdadeiros degraus de arquibancada para entrarem nos ônibus, vemos que mais pessoas participam do mercado de trabalho, pois, de certo modo, o sistema de transporte oferece mais autonomia para a população.

E quem não gosta de ir ao Shopping Center? Em Campinas, um dos maiores centros comerciais da América Latina foi inaugurado com alguns conceitos de acessibilidade que até então não eram vistos em outros empreendimentos. Os administradores do local gentilmente passaram a oferecer cadeiras de rodas em alguns pontos específicos. O resultado é que o Shopping passou a ser frequentado por mais portadores de deficiência e idosos. No começo houve até um estranhamento por parte dos consumidores habituais, que logo assimilaram a ideia, causando uma reação saudável na concorrência.

Quando você democratiza a cidade para todos, mais gente participa da economia ativa e todos ganham com isso.

8) O desenho universal é bom para todos ou ele preconiza apenas cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida? Quantas pessoas com restrição no Brasil?

O grande desafio do desenho universal é que ele ser deve ser bom para todos, independentemente da existência de necessidades especiais ou não. Se ele atende aos cadeirantes, certamente será bom também para os caminhantes. Crianças, jovens, adultos ou idosos, magros, obesos ou atléticos – o leque é bem extenso. E dentro do universo de pessoas com necessidades especiais, não ficam apenas os cadeirantes ou aqueles com mobilidade reduzida, pois devemos incluir também as deficiências de visão e audição em diversos graus, e ainda lembrar daqueles com dificuldades intelectuais variadas. Esta, a bem da verdade, é uma noção que ainda precisa ser esclarecida para a população em geral.

Pessoalmente, não arriscaria uma porcentagem precisa de brasileiros com necessidades especiais. Fala-se em 15% da população, algo em torno de 28 milhões de pessoas, mas acredito que este número seja até maior, se englobarmos todos os tipos de deficiências, pois em cada família há pelo menos uma pessoa com alguma necessidade especial. Podemos não ter a consciência de que sejam muitas pessoas, uma vez que nossas cidades, em sua imensa maioria, não são acessíveis. Portanto não vemos esse contingente nas ruas com grande frequência.

As portas dos sanitários de acesso universal devem abrir para fora do ambiente e possuir largura suficiente para a passagem de cadeira de rodas ou pessoa portadora de muletas.

A sinalização em cores contrastantes – no caso um padrão da EBCT - facilita a identificação dos ambientes de uma edificação de uso público ou coletivo. 

9) É possível fazer adaptações nas obras prontas ou o ideal é fazer antes, pensar na questão antes da construção?

Algumas adaptações em obras prontas são possíveis, a depender de uma série de aspectos, que vão dos recursos financeiros, passam pelas limitações técnicas e de qualidade de mão de obra e esbarram, por vezes, em questões legais, quando o imóvel pertence a terceiros ou está tombado por uma entidade de defesa do patrimônio histórico e cultural. O ideal, sempre, é pensar neste conjunto de medidas ainda na fase de estudo do projeto da obra, e as vezes até antes, quando por exemplo um terreno está sendo avaliado para compra – pode ocorrer que o lote em questão seja inviável para o objetivo da construção, devido as suas dimensões, declividade e zoneamento urbano.

10) Quem pensa no desenho universal? O arquiteto, o engenheiro, o designer? É possível um trabalho conjunto?

A questão não é exatamente responsabilizar ou priorizar um tipo de profissional - e esquecemos de mencionar o urbanista. O que manda é o projeto como um todo, então cabe ao coordenador do projeto cobrar dos demais profissionais o comprometimento com o desenho universal. Se uma cidade decide implantar uma praça intercalada com uma ampla avenida, cabe ao urbanista dar as diretrizes do projeto. Na outra ponta, quando um designer recebe a encomenda para desenvolver um nova cadeira para uma estação de trabalho, cabe a ele pensar no desenho universal, que engloba a ergonomia e a usabilidade. Isso vale até para indústria automotiva, cujo coordenador de projeto não precisa ser necessariamente um engenheiro, mas um executivo responsável, que muitas vezes teve formação em outra área. O trabalho em conjunto, no desenvolvimento de produtos e edificações, só é possível quando existem coordenadores de projetos.


A bacia sanitária do sanitário acessível contém barras de apoio, distância mínima de 50 cm de seu eixo em relação ao vértice do cômodo e dianteira rebaixada para auxílio de higienização.

A coluna da pia acessível é suspensa em relação ao chão, para facilitar a aproximação da cadeira de rodas – da mesma forma ela conta com barra de apoio e distância do canto da câmara.

11) Projetos que preconizam o desenho universal são mais caros? Por que?

Projetos que levam em conta o desenho universal levam mais tempo para serem desenvolvidos e requerem profissionais mais capacitados, que não são encontrados com facilidade.

Além do mais, projetos de arquitetura e urbanismo que priorizam a acessibilidade universal tendem a ocupar mais área, exigindo mais recursos na compra de terrenos e na execução da obra. Uma vaga de estacionamento para cadeirante ocupa um espaço 50% maior do que uma vaga convencional. O mesmo se aplica para sanitários que tenham uma pia e uma bacia sanitária. A largura de um corredor de circulação interna de uma edificação precisa ser, no mínimo, 20% maior do que a habitual. Logicamente existem outras áreas que não sofrem muitas alterações, mas se consideramos um aumento médio de 10 a 15% na área final, chegaremos numa diferença considerável.

12) É possível preconizar o desenho universal num País onde a prioridade é construir moradia para 8 milhões de desabrigados? Alias, um projeto para habitação tem essa preocupação?

Não devemos tratar isso como uma possibilidade, mas como uma obrigação. Atualmente os conjuntos habitacionais financiados com recursos públicos, compostos por prédios de três a quatro andares sem elevadores, reservam alguns apartamentos do pavimento térreo para pessoas da terceira idade ou portadores de necessidades especiais. Ocorre que a expectativa de vida do brasileiro está aumentando a cada década e cada vez mais teremos pessoas na terceira idade, em comparação com as pessoas mais jovens, pois nossa taxa de natalidade está estabilizando. É uma questão de tempo para a equação não fechar mais.

Se não investirmos na acessibilidade universal em nossas moradias públicas e privadas, pagaremos uma conta muito alta dentro de 30 ou 40 anos. Infelizmente a classe média, que pode financiar a compra da casa própria, no caso dos apartamentos, é a que mais vai sofrer. Basta analisar as plantas publicadas nos folhetos promocionais, cujos banheiros sociais são oferecidos com apenas 1,25 metro de largura, quando o mínimo aceitável seria 1,50 metro e o ideal seria 1,80 metro. As famílias que estão sacrificando suas economias agora, vão precisar de novos apartamentos no futuro, numa época que a fonte de renda vai cair de forma irremediável.

Lamentavelmente as residências unifamiliares não são obrigadas a se adequar à lei de acessibilidade, então cabe ao profissional responsável pelo projeto ser consciente e abordar este assunto ainda na encomenda do primeiro desenho. Por exemplo: se uma família sonha em morar num sobrado - e ninguém seria louco de instalar um elevador numa casa de pequeno porte - cabe ao projetista colocar em discussão, com os contratantes, a necessidade de criar ao menos um ambiente no pavimento térreo que possa ser convertido num dormitório. Pode ser uma sala de TV ou um escritório, mas o lavabo social precisa prever espaço para instalação de um chuveiro, e assim por diante.

O arquiteto Jean Tosetto no hall de seu escritório.

Sobre o entrevistado:

Jean Tosetto é Arquiteto e Urbanista formado pela FAU PUC Campinas. Desde 1999 já realizou mais de 200 projetos – em sua maioria residenciais e comerciais, mas também institucionais e industriais – especialmente na cidade de Paulínia (interior de São Paulo), onde é radicado, e Região Metropolitana de Campinas.

Em 2003 fez sua primeira imersão profissional no campo da acessibilidade, ao desenvolver o projeto residencial de sua avó paterna, então convalescente numa cadeira de rodas na cidade de Caçapava, no Vale do Paraíba paulista. Já em 2005 participou do "Curso de Capacitação Técnica em Acessibilidade e Mobilidade Urbana" ministrado por membros do Grupo Técnico de Acessibilidade do CREA-SP – Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de São Paulo – na Unicamp.

No ano de 2006 teve uma experiência como professor universitário convidado pela efêmera Faculdade de Administração Pública de Paulínia, que através do Núcleo de Estudos de Transporte e Mobilidade e do Núcleo de Estudos de Habitação ministrou respectivamente as disciplinas de “Mobilidade Urbana e Transportes” e “Habitação Social”. Nesta ocasião, conduziu junto com seus alunos um criterioso estudo sobre as condições de acessibilidade na região central de Paulínia, resultando num relatório entregue à autoridades municipais, quando atuou como membro do COMPHACT - Conselho Municipal do Patrimônio Histórico, Ambiental, Cultural e Turístico do Município de Paulínia, no biênio de 2007 e 2008.

Em 2009 concluiu a construção da própria residência e escritório, onde vários aspectos, não só da acessibilidade universal, como também a respeito da sustentabilidade ambiental e econômica, foram executados. Desde então vem colaborando com publicações diversas relacionadas a estes temas, aplicando tais conceitos, sempre que possível, nos projetos em que atua.

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